domingo, 19 de setembro de 2010

Vida: Descobri que sou rica

Quando nascemos, achamos que o mundo é exatamente como vemos, e que tudo a nossa volta é a mais pura verdade. Mal sabemos nós que o globo está cercado de mentiras, mascaradas não só pelas lorotas que ouvimos, como também pela paisagem ilusória do nosso quartinho decorado. Sair deste ambiente confortável, deixando as mentiras, e encarar o mundo real às vezes não acontece nem quando crescemos. Fora desse quartinho bonitinho, há quartinhos feinhos, ou, de vez em quando, simplesmente não há quartinho. Há também pessoas que possuem esse quartinho feinho ou que não possuem quartinhos, e que já estão dentro do mundo real, sem mentiras. E muitas vezes o dono do quartinho decorado bonitnho não sabe da existência de quartinhos feios, que são, na realidade, os quartinhos de verdade. Por quê? Por que eles são os que mais existem.Quartinhos decorados são para poucos, nem todos dispões do dinheiro necesário para esse luxo de decoração.
 E foi dentro de um quartinho desses que eu cresci. Sempre fui a escolas onde todos tinham um quartinho arrumadinho, comi da comida comprada com esse dinheiro "para luxos", e esperneei no supermercado para que minha mãe me comprasse porcaria como meus amiguinhos faziam também. Mas, sobre tudo, minha televisão sempre mostrou pessoas iguais a mim financeiramente. Então, para mim, tudo isso era normal. Mas não é. Mesmo a televisão - todas as novelas, desenhos animados e programas de auditório - mostrando uma realidade parecida com a minha, ela não é a que predomina no Brasil. Essa é apenas mais uma mentira que pregam em todos os lugares. Como eu descobri que era mentira? Como eu descobri que nem todos tinham quartinhos bonitinhos e dinheiro para porcarias? Vou lhes contar uma história...
Certa vez meu pai me disse que eu era da classe média alta do país, de uma classe muito privilegiada. Eu não acreditei. Como disse, estava cercada de mentiras que me diziam o contrário. Classe média alta eu já não era, rica então? Nem pensar. Rica era a Xuxa, o Brad Pitt e o Silvio Santos. Não, eu era classe média normal. Nem alta nem baixa. Estava no meio termo da população, onde a maioria estava. Todos os que eu conhecia eram daquela classe, então era a maioria, e era normal, e meu pai não poderia estar certo.
Aí comecei a fazer um curso que sempre quis fazer, mas que pensava não existir em minha cidade. O curso não é aberto a qualquer um, só concegui entrar lá pois conhecia professor, que deu um jeito de me infiltrar. O motivo de não ser aberto é simples: é para jovens carentes. Ao chegar lá, conheci pessoas maravilhosas: humildes, sem preconceito e carinhosas. Descobri, com o tempo, que estudavam em escolas públicas e que precisavam de um tempo para juntar dinheiro para comprar certas coisas que eu comprava direto. Pensei: são pobres.
Comecei a sair com eles, depois de me tornar amiga dos mesmos. Eles me levaram a lugares em que nunca tinha ido, como pracinhas à noite e grupos de apoio a jovens carentes. Fiquei até com medo no começo, pois havia muitos outros jovens como eles lá, e eu tinha aprendido em casa que poderiam ser perigosos - diferente deles, eu tinha preconceito. E existiam tantos daquela classe, que me perguntei como nunca havia reparado na quantidade de pessoas com renda baixa na cidade. Existiam bairros inteiros naquela situação! Como eu nunca os tinha visto?! Meus novos amigos me diziam que eu morava em bairro nobre; enquanto meus outros conhecidos me falavam que meu bairro era normal, e que era os deles que eram desprivilegiados. Meus novos amigos me diziam que eu era rica, e para mim eu era classe média. Mas como eles poderiam não ter razão sobre o meu bairro ser anormalmente caro, se os bairros deles é que existiam com maior abundancia na cidade (como eu descobri mais tarde)? Como eles poderiam não ter razão sobre o fato de eu ser rica, se os supostos "pobres" existiam em maior quantidade que os supostos "classes médias"? Eles eram os normais, não eu. Eu era rica.
Meu professor de história disse que, antigamente, a classe nobre do país era de apenas de 5% da população, e eles mandavam em tudo mesmo sendo minoria. Quem diria que hoje em dia também é assim. Até a mídia é voltada para atender a nossa classe, mas nós somos um classe privilegiada do país, e não a classe popular. Quem diria, descobri que sou rica...

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