segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Livros: The Mokingjay (A Esperança), Suzanne Collins

A Esperança
                               The book
Perfeito - e se não existe livro perfeito, esse é um dos que mais se aproxima disso. O que mas eu poderia dizer de "Mokingjay" ("A Esperança", na versão brasileira)? Que Suzanne Collins achou uma forma de unir todos os elementos de uma guerra, mas conseguindo fazer uma linguagem leve, para tornar seu profundo livro não tão pesado. Que os personagens continuam impecavelmente complexos como nos dois livros anteriores, e, com a conclusão da saga, finalmente os entendemos (bem, quase todos). A autora mostrou uma bem bolada visão da influência da mídia em guerras, bem como as mil faces de uma guerra. Tentarei mostrar aqui o que foi de fato essa ótima trilogia, e porque a saga vai ficar inesquecível em todos os seus deliciosos detalhes.
A conclusão mais óbvia que cheguei ao terminar de ler foi que o primeiro livro fala sobre a influência da mídia em ditaduras, o segundo sobre a influência da mídia em revoluções, e o terceiro sobre a influência da mídia em guerras. Essa mostra de influências é feita a partir de uma estória fictícia centrada em uma garota que, por sua humanidade e impulsividade (e por que não teimosice?), se tornou o alvo de marketing de rebeldes em uma ditadura. Explicando: tudo começa quando essa menina, mais uma faminta do distrito mais pobre da ditadura Panem, se voluntaria para tomar o lugar da irmãzinha nos mortais Jogos Vorazes da Capital. A partir daí os olhos dos que queriam se rebelar contra a ditadura da Capital começaram a voltar-se para ela. E foi só uma questão de tempo para os futuros rebeldes notarem o fato: que era esse comportamento, humano e teimoso, de Katniss o que eles precisavam despertar no povo de Panem, para que este se rebelasse. Após esse conhecimento, Katniss é "usada" sem dó durante toda a trilogia pelos revolucionários. Citando apenas alguns nomes: Cinna, Haymich, Coin, Plutarch... E pelo Peeta. Separo-o pois ele não é rebelde e nunca foi (eu acho...), mas foi o que mais "usou" a Katniss em primeiro momento. Mas falaremos sobre personagens depois. Suzanne Collins mostrou saber o que é feito para atingir um determinado público, com a mostra de o que foi feito com Katniss. O que encontramos nos livros é o desenrolar de toda a "utilização" da protagonista: o efeito que o humanismo tem em um povo em más condições, o quanto os conflitos de poder podem esconder seguredos, o quão bom e o quão ruim pode a mídia ser. Porém, não se enganem: apesar de toda essa "utilização" da personagem, nem sempre isso é sinônimo de indiferença das pessoas para com Katniss. Percebemos no livro que muitos dos que a "usaram" realmente gostavam da menina, mas todos entendiam que isso era necessário, até a própria Katniss, depois de certa zanga... Os livros, pois, são uma mistura de sentimentos humanos e o que isso causa nas pessoas, mídia, e táticas de controle de poder.
      Falando um pouco especificamente do terceiro livro. O fato de os personagens estarem em uma guerra e tantas pessoas morrerem durante a obra inteira definitivamente influenciou no comportamento de todos. Sinto que eles ficaram ainda mais tristes. Muitos começaram a enlouquecer, por diferentes motivos. Isso revelou um outro lado de certos personagens. Ficamos conhecendo mais a fundo o Gale e Finnick, que aparecem mais nesse livro. Fiquei meio surpresa com a crueldade que Gale pode demonstrar algumas vezes, e foi percebível que ele e a Katniss são um pouco mais diferentes do que eu imaginava. Sempre achei os dois muito farinha do mesmo saco, mas em certos pontos da narrativa eles se mostraram muito diferentes (Leitores, preparem-se para descobrir que, diferente da Katniss, Gale tinha vida social :O Choquei).
      Aproveitando que estamos falando de personagens, quero fazer uma análise dos mesmos, pois muitos são inesquecíveis.
A começar com a própria Katniss. A saga é narrada por ela, o que, por si só, já é interessante. Ler um livro narrado por uma personagem que consegue ser - ao mesmo tempo - entediada e cheia de coisas para fazer, triste e feliz, anti-social e carinhosa, bicho do mato e simpática, amorosa e odiosa, heroína e assassina, violenta e pacífica, e por aí vai, dá um pouco de dor no cérebro. Parece um tanto contraditório, mas ela faz sentido. Mas até que se entenda a mente de Katniss é necessário pensar por horas e horas, talvez por isso o livro é tão viciante. Além disso, foi interessante ver uma personagem tão impulsiva ser controlada durante a obra inteira (mas adianto que foi ela que tomou a decisão no segundo final).



      Competindo em iguais posições pelo primeiro lugar em dificuldade em entendimento, temos o Peeta. Talvez ele ainda vença. Ele foi o único personagem ao qual eu não consegui decifrar após o fim do último livro. Os motivos pelo qual "usou" e ao mesmo tempo ajudou Katniss ainda são um mistério para mim. Minha teoria é que Peeta viu nela uma chance para ele mesmo sobreviver (escondendo-se atrás dela) no primeiro momento; mais tarde querendo apenas manter a própria Katniss viva, já que ele desiste de sua própria vida em vários pontos da narrativa, e tendo em vista que o garoto está apaixonado pela protagonista. Mas as interpretações variem de leitor para leitor. O fato é que, independente do porquê, ele arrumou um jeito de exaltar a menina de uma forma bem brilhante. Com sua boa mente de estrategista de marketing, ele apenas percebeu o óbvio: que não importa as regras do jogo, não importa o quão mortal ou cruel seja, os Jogos Vorazes ainda era um reality show. E, como todo o reality show, o que importa é a novela. E, apenas com novela, ele conseguiu convencer a todos a fazer o que ele queria. Peeta foi um grande ator, o que foi bom para as estratégias dele. Mas isso o torna difícil de ser entendido, pois nunca sabemos quando ele mente e quando ele fala a verdade. Então muitos fatos sobre quem era o Peeta de verdade ficaram confusos. Ele atua o tempo todo, até que ele mesmo não saiba mais se o que fala é mentira ou não. Algo que Peeta me "ensinou" - se posso dizer assim - é que não importa quem você é, e sim o que as pessoas (ou câmeras) acham que você é. Há um toque de Hittler nele, algo como "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade" (medo oO). E, apesar de todo o fingimento, ele consegue ter uma personalidade muito forte, inexplicavelmente. E lembrar que esse personagem tão complexo começou sendo o filho do padeiro metrosexual, se mostrando muito mais do que isso em seguida, mas sem deixar o jeitão próprio visto em primeiro momento. Sem dúvida marcante.
      Cinna foi outro personagem um tanto surpreendente. Sua mente não é tão difícil quanto à dos dois mencionados a cima, mas ele também é interessante. Ora, quem diria que um estilista era um "revolucionário desfarsado"? E como foi brilhante todas as as estratégias de marketing que ele teve! É incrível como Collins conseguiu fazer sentido em um personagem que incita revoluções fazendo roupas. Se o Peeta foi o estrategista de marketing oral, Cinna foi o visual. E assim os dois juntos exaltaram a Katniss.
      Quanto ao Gale já falei. Fechado e revoltado como a Katniss, os melhores amigos tinham muita coisa em comum. Mas ele tinha mais ideias, enquanto ela apenas seguia o fluxo. E ideias às vezes podem ser perigosas... E não conto mais por conta de spoilers. Vale ressaltar, também, que a autora conseguiu fazer aqui um retrato perfeito do que chamamos de "melhores amigos" (nesse caso, amigos coloridos, mas, de qualquer forma...). Às vezes chega a assustar como Gale conhece a menina. Faz umas previsões um tanto certas, mas sempre algo dentro do possível (Suzanne Collins é um tanto realista, não escreve nada exageirado).
      Esse é um bom ponto. Foi facinante ver como a autora consegue sempre manter o realismo num livro de caráter distópico. Ela misturou os estilos literários de uma forma que deu muito certo. Vejam como. Sendo "Jogos Vorazes" uma trilogia, personagens importantes não poderiam morrer muito cedo, a ponto de não restarem mais nenhum na história antes da mesma acabar. Porém Collins conseguiu manter o realismo de guerra, usando-se de truques de enredo. Os livros ainda são distopias, o que significa que não falam de um problema específico do presente, e sim de um problema mais amplo. Então não pode ser chamado de realista, já que esta é uma das características do Realismo. Apesar disso, todos os personagens são incrivelmente reais e humanos, já característicos do Realismo. Não acontecem exageiros, caracteristica do Realismo. Não há nenhum acontecimento colocado no texto de propósito, para ajudar no entendimento ou no desenrolar da obra - tudo acontece simplesmente pois coisas acontecem na vida. Realismo. Então por que não chamar "Jogos Vorazes" de distopia realista? Quem sabe Suzanne Collins não inventou um gênero novo?
Difícil dizer, mas que ficou bom ficou.
      Mas há algo que me deixa preocupada sobre essa obra: a escritora mostrou que sabia fazer ná prática o que colocou no livro. Ela achou uma forma de exaltar artificialmente o seu livro, como Katniss foi exaltada pelos rebeldes. Ora, a obra é sobre um tema nem sempre apreciado por jovens (ditaduras e revoluções). Isso levou Collins a apelar um pouco, o que significa que, apesar de todo o caráter de crítica às mídias do livro, ele tem inicio, meio e fim, com toda uma envolvente história de amor e ódio por parte dos personagens. Por exemplo, ela usa alguns clichês muito populares, como triângulo amoroso e teorias apocalíticas. E disso os jovens gostam, até demais. O problema é que, por isso, agora o livro caiu na boca do povo, ficou popular, está se transformando na famosa "modinha", que vai ser confirmada com um filme feito nas coxas que sai em breve. Fico meio triste quando essas coisas acontecem. Pois é uma história com muitos pontos positivos mas que será super acusada de modinhas e clichês. 
      Mas fiz o possível aqui para que esses pontos positivos não fossem esquecidos. A resenha ficou grande, mas pelo menos eu disse tudo. Apesar de ser voltado ao público jovem, a trilogia vale à pena para todos aqueles que esperam de um livro um pouco de tudo: aprendizagem, mostra de sentimentos, boas técnicas textuais e entreterimento envolvente. Quanto a isso, tiramos o chapéu para Suzanne Collins.

4 comentários:

  1. Oi, voce voltou e pelo visto bem animada, já que fez um post deste tamanho. Não li ele todo pois ainda não li nenhum dos livros e não quero saber de nada por enquanto, até decidir se vou realmente ler.
    um abraço
    Gisela - Ler para Divertir

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  2. camila, to passando pra dizer que te indiquei em um tag que recebi, passa la no meu blog e veja!!! bjuxx : http://vivendodelivros.blogspot.com.br/2012/05/tag-11-perguntas.html

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  3. Parabéns pela resenha!!
    Apesar de não concordar com tudo, os pontos levantados são muito coerentes.
    Não acho que Peeta tenha usado a Katniss. Uma vez que durante os livros, ele nunca demonstrou intenção "genuína" de mata-la. Quando falou dos seus sentimentos em público, era o clássico "Ou vai, ou racha", talvez ninguém nunca tivesse lhe feito a pergunta, e quando resolvem perguntar, até aquele momento, a morte era certa para pelo menos um dos dois. Enfim, Katniss o usou, ele se permitiu ser usado e ainda foi verdadeiro com ela, do 1º ao último.

    Até o tratamento frio que ela tinha com a mãe no final tem um bom desfeicho, pois a ausencia e depresão da mãe que ela julgava tão dura e secamente causada pela dor da perda pai, ela no final acabou sentindo na pele e tendo a mesmíssema reação!

    Té +

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  4. Ganhei um selo e tenho que distribuir para 10 blogs, está em:
    http://lerparadivertir.blogspot.com.br/2012/11/selinho-aprovo-e-recomendo-esse-blog-e.html

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